Criar abelhas sem ferrão em áreas urbanas é mais simples do que muita gente imagina. A atividade, conhecida como meliponicultura, tem crescido no Sul de Santa Catarina, reunindo criadores em torno da Sociedade Catarinense de Meliponicultura (Somesc), que promove encontros, troca de experiências e incentiva a preservação das espécies nativas.
Segundo Juliano Mazzucco, presidente da Somesc, é possível manter colônias de abelhas em quintais, varandas ou até em apartamentos com áreas externas, desde que haja atenção às necessidades básicas das espécies. “A jataí, por exemplo, praticamente não precisa de assistência. Já outras, como a mandaçaia, podem precisar de um reforço alimentar em épocas de escassez de florada”, explica.
Ao contrário da apicultura, que lida com abelhas com ferrão como a Apis mellifera e exige equipamentos de proteção, a meliponicultura trabalha exclusivamente com espécies nativas sem ferrão, como jataí, mandaçaia e tubuna. Além de serem mais dóceis, essas abelhas podem ser criadas com pouca manutenção, tornando-se ideais para ambientes urbanos.
Além da criação em si, os enxames também podem ser fonte de renda. É comum que criadores iniciem por interesse ambiental ou como hobby e, com o tempo, comecem a comercializar as caixas com colônias formadas. “Tem gente que tira mel, mas o mais comum é vender as caixinhas com abelhas. Em boas floradas, como a do eucalipto, dá pra tirar até 20 quilos de mel por temporada, mas para isso é preciso ter enxames fortes”, comenta Mazzucco.
Outro benefício direto da meliponicultura é a polinização de plantas, que impacta positivamente a produção agrícola. “A gente vê muito resultado em plantações de amora, morango e até pitaia. Sem as abelhas, os frutos ficam deformados. Com a polinização certa, a qualidade e a produção melhoram muito”, afirma.
Em regiões como o Norte do país, já existem experiências consolidadas no uso das abelhas sem ferrão como estratégia de aumento de produtividade em lavouras de café, por exemplo. “Com a espécie tubuna, é possível aumentar em até 30% a produção”, destaca.
Embora algumas espécies de abelhas sem ferrão sejam originárias de outras regiões do Brasil, é possível criá-las no Sul com os devidos cuidados. “A boca de renda, por exemplo, é do Norte. Aqui a gente usa caixas térmicas feitas com cimento e isopor para ajudar no controle de temperatura durante o inverno. Com assistência do criador, elas se adaptam bem”, conta Mazzucco.
Já as espécies nativas da região, como a jataí e a mandaçaia, são mais resistentes ao clima e exigem menos atenção. Ainda assim, em períodos de baixa florada, recomenda-se fornecer alimentação suplementar — um xarope feito com água e açúcar.
A Somesc é a principal referência da atividade na região. Criadores de Criciúma, Içara, Forquilhinha e outros municípios participam de encontros, oficinas e feiras. “Temos em torno de três encontros por ano, onde trocamos experiências, tiramos dúvidas e mostramos como cuidar das abelhas. Quem quiser começar, pode adquirir uma caixinha com colônia já formada, que geralmente é entregue ao novo dono no final da tarde, quando as abelhas retornam para a colmeia”, orienta Mazzucco.
Os produtores ligados à Somesc podem ser encontrados em eventos do agro, como as feiras AgroPonte e Feagro, onde costumam expor seus produtos e compartilhar conhecimento sobre a meliponicultura. Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho da associação ou entrar em contato com os criadores também pode acessar o perfil no Instagram: @somescmeliponicultura.
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